Espaço Sergio Britto
Unidade CAL Glória
"É uma grande honra ter sido chamado para dirigir a formatura do TEC A: 9 jovens e corajosos atores e atrizes que compõem a primeira turma do curso técnico da CAL após sua reformulação. Fui professor de Interpretação deles no seu primeiro semestre e a lembrança carinhosa de me convidar para encerrarmos juntos esse processo me enche de alegria. Uma turma de excelentes atores, artistas estudiosos e aplicados. Uma turma que sobreviveu a uma pandemia e, apesar de todas as dificuldades envolvidas, não desistiu de levar ao fim a sua formação.
Após um mês de pesquisa dramatúrgica, optamos pela obra do norte-americano Neil Labute. Tive meu primeiro contato com a dramaturgia de Labute nos anos 2000 a partir das montagens icônicas de alguns de seus textos mais conhecidos, como “Baque” e “Gorda”. Desde o início me surpreendi com a crueldade da sua escrita, em que através de um humor ácido e cínico, ele expõe seus personagens despudoradamente, revelando suas profundas incongruências e a hipocrisia de sua falsa moralidade, numa crítica contundente à sociedade ocidental contemporânea. A extrema coloquialidade de seus diálogos impressionaram os alunos-atores desde o princípio (e manter essa coloquialidade na tradução e interpretação foi um verdadeiro desafio para todos nós), bem como o caráter provocativo de suas situações e personagens.
"The Shape of Things" / “A Forma das Coisas” conquistou nossos alunos-atores desde a primeira leitura. E após uma extensa pesquisa por toda a obra de Labute, "Some Girl(s)" / “Alguma(s) Garota(s)” nos pareceu um complemento adequado para levarmos à cena, com boas possibilidades interpretativas para todos. Duas peças que possuem algumas similaridades: um tom inicial de comédia romântica que oculta perigosos abismos da alma; a exposição de um questionamento sobre a função do artista na sociedade (até que ponto a criação artística é indissociável de uma certa atitude canibal e anti-ética?); e especialmente, a questão de gênero em nossa atual sociedade: os papéis ainda esperados e exigidos dos homens e das mulheres, a falta de empatia e de uma certa noção de alteridade… e a dificuldade de comunicação e escuta no universo heterossexual. A ausência de uma bóia de salvação moral ou de qualquer perspectiva ética em ambos os textos convidam cada espectador para uma jornada provavelmente incômoda, na qual certamente haverão mais perguntas do que respostas, e a grande possibilidade de alguém sair ferido. Boa sorte!"
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Menelick de Carvalho
diretor cênico
Neil Labute
Menelick de Carvalho
Ingrid Manzini
Wilson Reiz
Victor Aragão
Luisa Narcizo
Rita Ariani
Pablo Henriques
Marcia Quarti