Espaço Yan Michalski
Unidade CAL Laranjeiras
Neste momento em que o mundo se defronta com trágico conflito, a dramaturgia de Wajdi Mouawad é de uma inquietante atualidade. Nas obras de sua premiada tetralogia, o autor evoca a presença das guerras, migrações, conflitos entre países. As buscas incessantes ao passado dos personagens questionam o panorama ético, político, social e histórico em que se encontram; o mergulho nas memórias dos antepassados como uma possibilidade de compreender o presente.
Com a montagem de FLORESTAS nestes tempos conturbados de pandemia, de volta ao presencial, a Turma BT29 encerra a sua vivência no Bacharelado em Teatro da Faculdade CAL de Artes Cênicas.
Mais uma vez à frente de um espetáculo de formatura, Marcelo Morato, apoiado por talentosa equipe, enriquece a formação de nossos alunos e alunas.
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palavras do diretor
Marcelo Morato
Iniciamos o processo de ensaios desta formatura da Turma BT29 em março de 2020, mas a pandemia da covid-19 nos impossibilitou prosseguirmos presencialmente. Em encontros virtuais, lemos e estudamos essa obra de Wajdi Mouawad, que encantou a turma e que se tornou seu objeto de desejo como peça de formatura. Hoje, dois anos depois, conseguimos enfim apresentar o espetáculo para o público. Nem todos da turma original estão presentes, mas com a colaboração de atores convidados, o sonho se fez possível.
Mouawad (1968), nascido no Líbano, vive atualmente no Canadá. Escreveu, entre outras obras, uma tetralogia sobre guerras, busca de origens, acerto de contas com o passado e projetos para o futuro. As quatro peças, Litoral, Incêndios, Florestas e Céus são obras-primas, textos impactantes e poéticos, sobre nossas promessas nem sempre cumpridas. Em Florestas, a promessa “Nunca vou te abandonar” encontra obstáculos internos e externos para se tornar realidade. Um dos personagens diz: “às vezes as promessas são mais justas na formulação que no fracasso”. Contudo, esses compromissos entre gerações, perpetuados e descumpridos, são a tônica desta peça.
Loup, adolescente de 16 anos, precisa buscar na sua ancestralidade as armas que vão fortalecê-la para amar no futuro. Essa viagem no tempo vai levá-la, na companhia de um paleontólogo, pelo labirinto de histórias terríveis de seus ancestrais, cujas trajetórias pessoais se entrelaçam com o passado histórico da Europa e do Canadá: a Guerra Franco-Prussiana, a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais, a queda do Muro de Berlim e o massacre na Escola Politécnica de Montreal.
Mouawad divide esta peça em sete módulos, cujos títulos interligam sempre uma parte do corpo e os nomes das antepassadas de Loup, mães, filhas, avós e bisavós nesta saga de amor e abandono: o Cérebro de Aimée, o Sangue de Léonie, a Mandíbula de Luce, o Ventre de Odette, a Pele de Hélène, o Sexo de Ludivine e o Coração de Loup. Uma das mulheres da família está ausente desta lista, e é nela que se encontra o elo perdido. Há que descobri-lo.
Florestas é, ao mesmo tempo, um melodrama familiar, uma história de investigação, uma peça sobrenatural, uma tragédia contemporânea, uma saga assustadora e de fundo moral. A explicação final escapa totalmente da justificativa científica ou da realidade, nos conduzindo, por um caminho sobrenatural, a um desfecho redentor. Mouawad quer acreditar que a amizade, o amor, o perdão são possíveis antídotos contra a guerra e o abandono.
Agradeço a todos e todas que, de alguma maneira, contribuíram para a realização desta peça, que até onde sabemos, é inédita no Brasil.
Wajdi Mouawad
Marcelo Morato
Manuela Torres
Marcelo Morato
Daniara Marchesi
Luca Matteo
Marcelo Morato
Paula Muricy
Vitor de Abreu
Luisa Narcizo
Wilson Reiz
Thalys Guarnieri
Pablo Henriques
Rita Ariani
Marcia Quarti
CAL