SESC Tijuca
Rua Barão de Mesquita . 539
Dezenove pessoas, depois de uma festa, ficam presas num aposento – inexplicavelmente. Nada as impede de sair, mas elas não saem. Uma situação surreal leva os convidados a permanecerem num único aposento durante dias, em condições cada vez menos civilizadas, com racionamento de provisões e falta d’água. O insólito deste aprisionamento nos conduz a reflexões e busca de sentido. Por que aquelas pessoas não saem dali? Estamos também nós presos a determinadas situações, condições? O que é que nos prende? Por que estamos presos? Como nos livrarmos disso? Queremos nos livrar disso?
Quem está dentro da sala não pode sair. E nenhum socorro vem de fora. O impasse da situação dramática – e quase todas as situações dramáticas são de impasse – obriga à estagnação aqueles seres humanos. E a estagnação vai exigir ação. Mas qual ação será possível? É uma situação da qual é difícil sair, porque o obstáculo não é óbvio: não há correntes, muros ou grades. Talvez o impedimento seja muito subjetivo, seja tão pouco às claras, que não conseguimos lutar contra ele. E, portanto, nossa aparente liberdade nos ilude quanto à nossa prisão e estagnação.
Outra questão se apresenta em (entre parênteses): se não há como sair dali para buscarem lá fora os bens dos quais precisam, eles terão que surgir dali. Ou ficarão sem os bens antes tão “necessários”. Suportaremos ficar sem nossos bens? Nossos vícios? Verificaremos que eles não nos eram necessários? Surgirão novos vícios? Novas necessidades?
Ali, enclausurados como ratos numa gaiola, a luta é pelo básico, pela água, pelo ar, pelo fogo, pelo espaço – e é ainda uma luta por poder. Que armas usarão? A linguagem ainda lhes servirá? A inteligência? Ou a força bruta? A moral será afetada pela necessidade de expor suas intimidades diante dos outros? De certa forma, evoca a nossa exposição constante às câmeras, à transparência, à mídia; a ultra-exposição dos reality shows. Haverá saída possível no amor, na fé, na solidariedade? Serão levados à loucura?
De uma hora para outra, eles não são mais o que eram. Está tudo diferente. Não sabem mais as regras do jogo. Terão que inventar outras para conseguir sobreviver. Ali, entre quatro paredes, é como se a história tivesse acabado. Ali é uma utopia às avessas. Não foi um lugar sonhado, desejado. Foi algo que lhes aconteceu, à sua revelia.
Se fôssemos colocados em condições tão adversas quanto a desses convidados, teríamos como sobreviver? Se tivéssemos que reinventar a eletricidade, o esgoto, o fogo, saberíamos como fazê-lo? Como nos livrarmos do lixo que nós mesmos produzimos, se o lixeiro não vem? Ou somos completamente prisioneiros da “modernidade” e seus confortos?
Ali, naquela situação insólita, também se reapresentam, sob nova condição, os ideais da Revolução Francesa: a igualdade, pois estão todos na mesma situação, e devem lidar com os direitos e deveres igualitários para manutenção da vida; a fraternidade que surge como grande desafio, para que consigam sobreviver sem que precisem eliminar ou lesar o outro; a liberdade como grande conquista.
Marcelo Morato
Duda Maia
Fábio Storino
Felipe Storino
Wilson Reiz
Anderson Dias
Mauro Leite
Sérgio Kauffman